
Esta máquina foi, juntamente com a minha 559, o objecto da minha primeira experiência de restauro. Começada no verão de 2003, foi uma aventura que acabou parcialmente no verão seguinte.
Foi um restauro atribulado, com muitos altos e baixos, entre questões orçamentais, qualidade dos serviços contratados, grau de satisfação com o nosso trabalho, tempo disponível. São, do meu ponto de vista, quatro variáveis que influenciam de modo determinante o nosso estado de espírito/ disponibilidade mental/ motivação para a concretização do objectivo a que nos propusemos.

Um trabalho de restauro, para quem não tem formação, sensibilidade, organização e paciência, é um trabalho difícil, que acaba num produto final longe de satisfatório, aos olhos dos peritos.
Para além de todas as condicionantes existentes à partida – orçamento e timming disponível - para se conseguir um bom restauro é preciso fazer muito trabalho de análise e pesquisa, ser exigente, autocrítico, organizado e acima de tudo, humilde.
Durante todo este processo, fomos aprendendo a lidar com o insucesso, mas também a prever e a contornar uma série de problemas, no sentido espicaçar o ego e ao mesmo tempo manter os pés assentes na terra. As seguintes expressões traduzem a peripécias vividas por um leigo na área do restauro de motociclos, mas com uma enorme vontade de aprender:
“Quem não sabe é como quem não vê!”, “Quem não sabe fo**r, até os q****ões estorvam!”, “O trabalho feito de noite vê-se de dia!”, “pronto! Já dei cabo disto!”“mais valia estar quieto!”, “isto é um poço sem fundo!”, “isto não nasceu aqui!”, “já esta tudo inventado, não temos que inventar nada!”, “Um gajo até desanima!”, “de onde é este parafuso?”, “Já não é este ano...”,”Já trabalha!”, “Já não pega!”.
A mota em questão saiu em 1961 da fábrica Česká Zbrojovka em Strakonice.
Apresenta como particularidades as linhas de remate do cromado do depósito pintadas de dourado e o símbolo ČZ pintado a vermelho. São detalhes invulgares numa mota deste modelo, que integrados no conjunto, contrastam com as expressivas linhas brancas que decoram os restante componentes – guarda-lamas (4 mm esp.) malas laterais (2,5 mm esp.), carenagem do farol (2,5 mm esp. ) e farolim.
As matrículas foram pintadas recorrendo a moldes executados a partir de um processo de decalcagem das matrículas originais, que possibilitou uma reprodução fiel das matrículas de época, com o mesmo tipo de letra.
Os objectivos deste trabalho eram modestos, pela consciência das várias limitações descritas. Havendo ainda alguns detalhes por afinar, podemos afirmar com convicção que o essencial foi conseguido: ressuscitou-se mais uma máquina adormecida.